quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Lixo


Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.- No seu lixo ou no meu?





Luis Fernando Veríssimo
Estamos, eu e a Grasiele Rocha também autora de 'O dia do casamento', com um pequeno problema, e por conta disso estamos sem atualizar nossa "novela", e para que ninguém fique sem ler, atualizarei o blog com alguns textos de autoria conhecida.
Em breve voltaremos com mais um capítulo emocionante de 'O dia do casamento'.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O dia do casamento - Capítulo XIII



-Que bom que sei!
-É...
-Lu, eu posso mesmo acreditar em você? Eu posso mesmo acreditar que você me ama, e que vamos ser felizes para sempre?
-Não!
-O que?
-Não... Não sei..
-Como assim você não sabe Luiza?
-Apolo, vai embora, por favor, eu preciso ficar sozinha!
-Você realmente quer me fazer de idiota né Luiza?
-Não, não é isso Apolo. É que..
-É que nada, acontece que você gosta mesmo de Pietro, eu sou um intruso na sua vida. Tchau Luiza, não me procure nunca mais.
-Não Apolo calma, espere, eu estou confusa, eu amei muito Pietro, e... Não sei... É difícil.
-Como assim amou muito Pietro? Estamos juntos a anos e esse amor continua Luiza?
-Não, não continua Pietro.. Apol...
-O que? Você me chamou de Pietro Luiza? Agora é demais para mim, chega!
–Apolo desculpa, foi sem querer.
-Seria melhor se você dissesse que foi de propósito Luiza, doeria menos. É acho que você mudou sim de idéia quanto ao que me propôs ontem.

Luiza deixa Apolo ir, ela está muito confusa, seu coração dói pela falta de Pietro e chora pela falta de Apolo. Ela não sabe o que faz. Desesperada liga para Helena.
-Helena eu já tentei esquecê-lo, mas é difícil.
-Mas não é impossível Luiza, você vai cair de novo no mesmo erro ficando com Pietro?
-Ele disse que era imaturo, e é verdade Helena.
-E quem garante que ele mudou?
-Você é igual minha mãe, ficam ai protegendo Apolo. Vou desligar. Tchau.
-Você é quem sabe, tchau.

Luiza não tem o apoio de ninguém quando o assunto é sua paixão por Pietro, com exceção de Sophia. Desesperada ela liga para a amiga e começa a desabafar, Sophia se sensibiliza e vai até a casa de Luiza dar um apoio a amiga.
-Você está mal mesmo hein amiga.
-Muito Soh, eu não sei o que faço. Pietro me balança, Apolo me surpreende
-Quem você ama?
-Não sei, quando eu vejo Pietro pareço adolescente apaixonada, e quando vejo Apolo não tenho duvidas de que é com ele que devo viver pelo resto da minha vida.
-Quem você ama mais?
-Sophia... Chega de perguntas.
-Ta bom RS. Lú me perdoa?
-Ah Sophia, fiquei com muita raiva de você e sinc...
-AAAA NÃO, já estou me sentindo culpada o bastante, se você começar a falar eu vou me matar RS, pára vai, por favor, só diz que me perdoa.
-Ta bom.
-Olha eu posso ir atrás de Apolo e tentar concertar a situação, talvez se eu fiz...
-Sophia o problema não é Apolo nem Pietro, o problema agora é que mais uma vez você me deixou confusa quanto ao que sinto por Pietro, e eu não vejo saída.
-Mas eu vejo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O dia do casamento - Capítulo XII


Sophia, apesar de tudo, estava adorando tudo que estava acontecendo... Assistia tudo como se visse sua peça teatral preferida, e ao mesmo tempo que assistia, sentia-se como se fosse a atriz principal, sem ela, não haveria conflito, sem ela, a história ficaria sem graça... Todo esse caos, havia mudado muito Sophia, olhava a tudo e a todos com outro olhar, falava de um modo diferente, com uma ironia irreconhecível... Pietro no outro dia pela manhã decidiu ir até a casa de Luiza, e foi...
-Luiza... Luiza...
-Entra...
-Olá!-Pietro?
-Ora, pensei que tivesse reconhecido minha voz... Estranhei mesmo mandar entrar com tanta calma (risos).
-O que quer?
-Conversar... Tava me sentindo meio sozinho em casa resolvi vem até aqui.
-E sua mulher? Seus amigos? Porque procurar logo a mim?
-Deve ser porque estava com vontade de conversar com Você.
Os dois subiram para o quarto e por horas ficaram conversando... E faltando duas horas para o prazo que Luiza havia dado quem aparece lá é Apolo, romântico, com flores, um cartão, e bastante chocolate... Entra devagar, quer fazer surpresa, sobe até o quarto:
-É, eu lembro sim... E teve aquela vez que você foi no parque porque sabia que eu estava lá, só para me ver...
-Pie, eu não fui só para te ver... (risos)
-Foi sim, eu sei, eu percebi no seu olhar, e até hoje ele não me falha, sempre sei o que ele está dizendo...
Se olham...
-Ta, é, eu conf...
-Como sou tolo mesmo...
-Apolo? Dizem Luiza e Pietro
-Venho com flores, e olha o que recebo? Sophia estava certa mesmo, e estou me convencendo que eu sempre fui um intruso no meio de vocês dois, o que devo fazer é aceitar.
-Não Apolo, quem não deveria estar aqui sou eu, Luiza e eu somos apenas amigos, e estávamos relembrando o passado... Apenas o passado.
Luiza então diz como se não tivesse gostado do que ouviu, mas volta atrás...
-Como assim Pietro? Eu pensei q... É, eu pensei que ainda tinha a idéia MALUCA de voltar comigo.
-Não talvez não seja o melhor! Vou embora, deixar vocês conversarem, estou torcendo por vocês...
-Tchau Pie, quando puder volte...
-Tchau Lu, foi ótimo ter conversado com você.
Apolo está sentado, olhando para o lado, parecia ter medo, de estar vendo, e ser obrigado a concordar com Sophia. Luiza tem um olhar distante, parece inconformada com alguma coisa... Fala com certa frieza com Apolo.
-Então Apolo, pensou sobre o que conversamos?
-Sim, fui conversar com Sophia logo que você saiu de minha casa... Ela contou-me a verdade, desculpe por ter duvidado de ti, agora sei que não tens nada a ver com o ocorrido do dia do casamento.
-Ah, engraçado ela não ter mentido, mas engraçado ainda é você precisar escutar dela para acreditar.
-Desculpe, errei... Todos erram. Mudou de idéia sobre o que me propôs ontem?
-Não! Porque mudaria?
-Pietro... Não sei.
-Pietro e eu não temos nada. Mesmo que quisesse ter, você mêsm...
-E você quer?
-NÃO!
-Olha trouxe para você... - pega as flores e o chocolate em cima da cama.Com um leve sorriso:
-Você sabe mesmo como me agradar!
-Jura que ainda sei?
-Pelo que vejo, sempre saberá...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Parabéns para mim.

Hoje é meu aniversário e eu vim me parabenizar por isso.
Parabéns para mim. Que todos os meus sonhos e objetivos
se realizem, que eu seja muito feliz.
Hoje foi um dia legal, ganhei presente e MUITOS parabéns.
Olha só que presentão meu pai me deu, um espacinho no blog
dele.




A semana da gloriosa dona Zazá
A partir de hoje, 4 de agosto data em que ela nasceu, e até o próximo sábado, nosso boteco imaginário estará enfeitado para festa.
Festa para minha filha Maísa, nome que o carinho dos que a rodeiam condensou para Zazá, ou Zá.
Até os sete/oito anos de idade, a família me aperreava:
- A Zazá não faz um círculo com o lápis, não lê uma vírgula!!!
Eu, na minha. Intuitivamente percebia que debaixo daqueles olhinhos vivazes, letras e sinais gráficos entravam em ebulição.
A leitura e a escrita brotaram na colheita prevista do ensino fundamental.
Mas, aos 13 anos, Zazá decretou:
- Vou ser jornalista.
Eu, quieto. Comovido e mudo.
Uma bela tarde, vadiando em vão pela internet, dou de cara com um blog cheio daquilo que os acadêmicos chamam de escrita interior.
A erupção já começou, e eu nem estava sabendo.
Assim é minha Zazá: um lago de doçura.
Mas de uma profundidade, de uns misteriozinhos de menina-moça, que bom seria colocarmos ali um aviso aos navegantes.
Nestes próximos dias vocês saberão algumas historiazinhas reais (opa!, quase entreguei o nome do blog dela!!!) desta personagem importante deste tempo que estou sobre a terra.
Sirvo, como aperitivo, um texto da minha Zazá linda.
E não se espantem se sentirem (garanto que não é corujice paterna) alguma coisa de Clarice, de Lygia...

Dúvidas
Por Maísa Borghetti
Será que...
Não, melhor nem pensar nisso.
Mas... e se realmente for?
Ai!, que medo.
Não sei, mas... sinto medo.
E se eu...
É melhor deixar tudo como está.
Mas seria tão...
IDIOTA!!! Não seja idiota mais uma vez.
Você sabe como é, como foi, e como vai ser.
Tira isso da cabeça.
É, tira isso da cabeça.
Mas... sabendo que tudo seria...
Seria ruim, péssimo.
Já posso sentir a dor, as lágrimas, o desespero.
Melhor nem pensar; melhor deixar assim, como está.
Mas até quando será assim?
Até quando vou deixar como está?
Não seria melhor se eu ...
Não, não seria melhor.
O melhor é que eu espere pra ver o que acontece.
É. É isso.
Esperarei... Em silêncio.
Não será tanto sacrifício, já que eu guardo tanta coisa para mim.
Vou fingir apenas que esqueci, que não ligo mais.
Porém, ligando, e "por de baixo dos panos" fazendo algo para acabar logo com isso.



Pelo visto, até que escrevo um pouco bem. (RS)

sábado, 2 de agosto de 2008

O dia do casamento - Capítulo XI


Apolo então decide ligar para Sophia, só conversando com ela que saberia se deveria realmente ir atrás de Luiza. Mas tinha uma duvida, Sophia podia mesmo estar querendo destruir o casamento dele com Luiza, mas mesmo assim, resolveu arriscar...
-Sophia, é o Apolo, podemos conversar?
-Apolo? Sim pode falar.
-Não gostaria que fosse por telefone.
-E gostaria que fosse por onde?
-Nos encontramos as dezoito no barzinho que fica na esquina da Augusta com a Paulista.
-As dezoito não posso, pode ser às dezessete?
-Ta bom então, até lá...
Então no local e no horário combinado estão ambos... Apolo é direto:
-Sophia preciso que responda com sinceridade o que vou perguntar... O que você disse no dia de meu casamento, aliás, no dia que era pra ser meu casamento, é verdade? Luiza sabia de tudo não é? Era tudo um plano de vocês... Fale a verdade!
-Há meu Deus, como andam aumentando as coisas para você, ou tudo isso foi sua própria conclusão? Garoto esperto!- Sophia diz em um tom irônico.
-Sophia, não brinque, por favor, dependo de sua resposta para ser feliz.
-Ah, ok! Vamos lá, tudo que disse é verdade sim, e você sabe, só nunca quis enxergar. Não, não foi um planinho maquiavélico pra cima do bom moço. Luiza nem Pietro sabiam, são vitimas assim como você, a tempos estava com vontade de fazer uma maldade, escolhi logo o casamento de minha melhor amiga...
-Então tudo isso foi só para ver-nos infelizes, você não presta Sophia. Ainda tem coragem de confessar...
-Então você preferiria que eu não confessasse? Você gosta de viver em um mundo que não é seu, né Apolo?
-O que?
-Olha, falando a verdade, está na cara que Luiza sempre gostou de Pietro, ela só ficou contigo para esquecê-lo, você sempre soube! Eu fiz o que fiz, por achar que faria melhor para todos, Luiza e Pietro que se amam de VERDADE ficariam juntos, e você procuraria alguém que te amasse de verdade também... Mas infelizmente não deu certo, hoje sou vista como a vilã, a invejosa, a que gosta de Pietro, a que gosta de Apolo, e fez tudo isso para ficar com os dois, sabe lá... É tanto que eu escuto que resolvi tapar meus ouvidos...
-A faça mil favores... Quer ser a vitima agora?
-Não, até porque não tenho vocação para vítima, só estou desabafando contigo mesmo...
-Eu acho que não sou a pessoa ideal para isso!
-Não mesmo! Enfim... Quer um conselho?
-Diga...
-Vá lá atrás de Luiza, ela não tem culpa de nada, se tem algum culpado nessa história sou eu.
-Mas você a pouco falou que Luiza ama a Pietro, porque fala para ir-me até ela? Será mais um plano?
-Quem sabe... Tchau Apolo, agora que sabe a verdade, faça o que quiser, mas cuidado, eu posso estar preparando mais um plano para o casal apaixonado, hahahahahaha.
-Tchau... Até que você me ajudou...